segunda-feira, 26 de setembro de 2016

Qual a diferença entre uma gangue e um governo?

Na imagem acima, vemos os chefes de duas gangues colombianas selando acordo de paz. Um é conhecido como presidente da Colômbia, o outro, é o chefe das Farc. Ao fundo, o chefe da gangue internacional ONU, Ban Ki-moon, aplaude. 

Acaba de ser assinado um acordo de paz entre as Farc e o governo da Colômbia, num daqueles momentos em que a semelhança entre os dois tipos de organização, gangue e governo, fica tão nítida que é impossível negá-la. Assinar um tratado de paz, que comumente só é assinado entre duas nações em guerra, é uma admissão do governo colombiano que uma instituição criminosa, que sequestrou e matou milhares, está no mesmo nível hierárquico que o governo. E isso fica mais nítido ainda quando pensamos que o governo colombiano, como qualquer outro, também mata e sequestra cidadãos frequentemente. Vejamos, primeiramente, outras semelhanças entre ambos:

- Uma gangue cobra taxas de pessoas que vivem em seus territórios em troca de segurança e serviços. Chamaríamos isso de extorsão. O governo faz o mesmo, porém chamam isso de imposto.
- Uma gangue impões restrições e regras às pessoas que vivem em seus territórios. Quem desobedece, é punido. O governo faz o mesmo, e chamam isso de lei.
- Uma gangue entra em conflitos violentos com gangues rivais e com o governo. O governo, entra em conflitos com gangues e em guerras com outros países.
- Os cidadãos que vivem em um território controlado por uma gangue raramente desobedecem as regras dessa gangue. Essa obediência é conquistada não somente pela força, mas também pela realização de pequenos serviços e favores. O governo faz o mesmo, e chamam isso de políticas sociais.
- Grande parte das pessoas que vivem em seu território nutrem admiração pelos membros da gangue, assim como apoiadores de políticos o fazem com seus mestres.
- Uma gangue possui uma hierarquia determinada, um chefe, seus comparsas mais próximos, seguranças, empregados de diversos tipos, aviôezinhos, etc. O governo também, mas chamam isso de políticos, presidente, deputados, governadores, funcionários, etc...

Então, qual seria a diferença entre os dois? Simples: o governo possui uma religião própria, uma semântica própria que "legaliza" todos os seus atos, algo que não existe em uma gangue. O poder é exercido em nome do "bem comum", em nome da "democracia". Um governo serviria, assim, para “cuidar de seu povo”, assim como os pais cuidam de um bebê. Há toda uma mitologia criada em torno do governo. Assim como sacerdotes de qualquer religião, políticos possuem formas diferenciadas de tratamento. Daí vem os "excelentíssimos", e outros termos pelos quais os servos os chamam.

Em resumo, um governo conquista sua suposta legitimidade através de uma lavagem cerebral em massa realizada ao longo de décadas, que convence os governados de que essa máfia exerce o poder de forma legítima. Pelo fato de possuir essa "legitimidade", e também pelo fato de um governo ser muito maior e mais poderoso do que a maioria das gangues, os governos causam um estrago muito maior do que a maioria delas. Porém, de vez em quando, uma gangue cresce tanto que se iguala ao tamanho de um estado, como no caso das Farc. A única coisa que faltaria para as Farc serem vista como um governo legítimo, seria eles se tornarem um partido e elegerem o presidente da Colômbia. Assim, chegariam ao status de um governo de fato. É de se imaginar que o surgimento de todos os governos e estados do mundo aconteceu dessa maneira, evoluindo desde um pequeno grupo de assaltantes, até um governo, que nada mais seria do que uma gangue gigante, vista como legítima pelo povo. A própria palavra governo faz parte da mitologia, e seria apenas um eufemismo para uma gangue gigante. Larken Rose já dizia, o governo só existe na cabeça do governado. Então, chamemos as coisas pelos seus nomes corretos: assim como imposto é roubo, governo é gangue.

domingo, 4 de setembro de 2016

Exemplo de anarquia na prática: supermercado

         
        A palavra anarquia, em sua definição mais simples, significa apenas ausência de estado. A sua simplicidade é parecida com a da definição de ateísmo, que significa ausência da crença em deus. Há muito mais coisas em comum entre esses dois conceitos, mas esse seria um assunto para outro post. O que quero tratar aqui é como a anarquia, encarada em sua definição mais simples, está presente em várias interações e organizações voluntárias.
         Ao contrário do que o senso comum diz, a anarquia não geraria caos e destruição. Crer nisso é acreditar que a única razão que o ser humano possui para permanecer vivo e se auto-preservar é porque existe um estado que o force a agir assim. Ao contrário, na vida real, abundam exemplos de como a anarquia gera organização na sociedade. Sim, a anarquia gera organização. Um exemplo seria visto em um supermercado. Um supermercado é formado por pessoas se organizando voluntariamente, de acordo com os seus interesses egoístas. Não há lei nenhuma, nem garantia alguma imposta pelo estado de que existirão pessoas dispostas a produzir e vender alimentos, roupas, eletrônicos, eletrodomésticos, material de limpeza e outra infinidade de produtos que são vendidas lá. Não há garantia de que pessoas irão plantar vegetais em fazendas, criar gado, transportar esses alimentos para centros de distribuição, desses centros para os supermercados, organizar os produtos em prateleiras, e outras infindáveis atividades que permitem que esses alimentos estejam disponíveis em um local para as pessoas adquirirem. Absolutamente todas as etapas que permitem que alguém obtenha um produto em um supermercado é fruto da interação voluntária entre os indivíduos. O estado não força essas interações, elas ocorrem espontaneamente. Por isso, pode-se dizer que tudo isso ocorre de forma anárquica, ou seja, sem a presença do estado. Ironicamente, em países em que o estado interfere nesse arranjo de forma significativa (como Venezuela, Coréia do Norte – países que fecham e estatizam supermercados) há falta de alimentos e fome. Em países africanos, que vivem em guerras entre proto-estados, as interações voluntárias que geram a disponibilidade de alimentos também é impedida, o que também gera fome e caos. É irônico imaginar que, ao contrário do que os estatistas pensam, é a anarquia que gera bem-estar e organização, enquanto o estado é o gerador de caos.
                                          Supermercado na Venezuela

         A mesma demonstração de anarquia vista no supermercado pode ser vista na internet e em várias tecnologias que surgiram nela: serviços peer-to-peer (Uber, Grabr, Airbnb), criptomoedas (Bitcoin, Monero), redes sociais (Facebook, Steemit) e aplicativos de mensagens (Whatsapp e Telegram) são exemplos. Assim como no caso do supermercado, o governo não obrigou nem garantiu o surgimento dessas tecnologias. Pelo contrário, muitas vezes os governos tentam impedir que essas tecnologias existam e se desenvolvam, através de leis esdrúxulas.

        Atribuir o bem estar que essas interações geram à humanidade à um determinado governo é tão ridículo quanto dizer “graças à deus” quando médicos curam um paciente. Há muito em comum entre os estatistas e os religiosos. Na verdade, podemos dizer que o estatismo, ou seja, a crença de que o estado é necessário para organizar a humanidade é, em si, uma religião. Pessoas que se dizem atéias e acreditam nesse mito não são realmente atéias. Pretendo fazer um post mais específico sobre esse assunto. Por hora, quem quiser saber mais sobre essa idéia, é só ler o incrível livro “The Most Dangerous Superstition”, de Larken Rose.

Como importar mercadorias pelo Grabr?


Texto postado originalmente na página do Facebook Resistência Fiscal
Vi que lançaram um serviço tipo o Cabe na mala (que saiu do ar), só que gringo, no site Grabr.io, ou em aplicativo para quem tem iphone. Ele é tipo um Uber para muambas. Com ele, você pode entrar em contato com um gringo que esteja vindo para sua cidade e pagar uma grana para ele te trazer a sua mercadoria! Pelo site, você escolhe o que quer comprar e o quanto quer pagar para o turista trazer. O turista que estiver indo para a sua cidade é informado e pode aceitar a sua proposta, ou fazer uma contra-proposta para isso. Você paga para ao site o valor total, mais 7% de taxa de serviço do site. O site só repassa a grana para o turista quando você confirma que recebeu o produto, e lhe reembolsa em caso de você não tê-lo recebido. Estou em processo de compra de um produto por ele, alguém mais daqui testou? Seguem os passos que segui na minha compra. Se tudo der certo, receberei o produto em um local combinado com o turista, daqui a duas semanas. Irei atualizar sobre o processo quando ele terminar.
1 – Faça o cadastro no site grabr.io. Fiz o cadastro usando meu facebook.
2 – Clique em start your order, no canto superior direito do site.
4 - Coloque o link da página do produto no site em que ele é vendido. No meu caso, escolhi um produto na amazon.com
5 – Inclua foto, nome e descrição do produto. Na descrição, eu coloquei uma instrução para que o valor total do que o gringo trazer de mercadoria não ultrapasse $500.
6 – Coloque o preço e quantidade do produto. Clique em next.
7 – Escolha a cidade que quer receber o produto
8 – Se desejar, escolha uma data para receber o produto
9 – Escolha o valor que deseja dar ao turista pelo serviço. O site sugere alguns valores, mas no campo abaixo você pode escolher qualquer valor. Dê next.
10 – Confirme o pedido. Agora é só esperar algum turista aceitá-lo
11 – Caso algum turista aceite, você pode confirmar a proposta dele e proceder com o pagamento por cartão de crédito. Você poderá olhar o score dele no site, para ver se ele é um bom vendedor. Você pode negar a oferta ou negociar com ele por meio de um chat no próprio site, para combinar os detalhes. Tudo que será conversado por vocês no site será gravado para eventuais disputas. - Eu confirmei a minha compra e parei nesse passo.
12 – Após receber o produto, confirme o recebimento do mesmo no site e o dinheiro será repassado ao turista. Você também terá um score como consumidor.
É isso aí. A idéia é ótima, e se tudo der certo, será uma revolução muambística. Para ficar perfeito, só se o site aceitasse bitcoin. Assim não ficaríamos a mercê da variação do dólar em um mês pelo cartão de crédito. Ah, o produto que comprei, mesmo com todas essas taxas, saiu mais barato do que o mais barato no mercado livre.

UPDATE

Realizei uma compra no site com sucesso! Tudo funcionou como o esperado! Serviço nota 9! Seria 10 se aceitassem bitcoin como forma de pagamento!