Na imagem acima, vemos os chefes de duas gangues colombianas selando acordo de paz. Um é conhecido como presidente da Colômbia, o outro, é o chefe das Farc. Ao fundo, o chefe da gangue internacional ONU, Ban Ki-moon, aplaude.
Acaba
de ser assinado um acordo de paz entre as Farc e o governo da
Colômbia, num daqueles momentos em que a semelhança entre os dois
tipos de organização, gangue e governo, fica tão nítida que é
impossível negá-la. Assinar um tratado de paz, que comumente só é
assinado entre duas nações em guerra, é uma admissão do governo
colombiano que uma instituição criminosa, que sequestrou e matou
milhares, está no mesmo nível hierárquico que o governo. E isso
fica mais nítido ainda quando pensamos que o governo colombiano,
como qualquer outro, também mata e sequestra cidadãos
frequentemente. Vejamos, primeiramente, outras semelhanças entre
ambos:
-
Uma gangue cobra taxas de pessoas que vivem em seus territórios em
troca de segurança e serviços. Chamaríamos isso de extorsão. O
governo faz o mesmo, porém chamam isso de imposto.
-
Uma gangue impões restrições e regras às pessoas que vivem em
seus territórios. Quem desobedece, é punido. O governo faz o mesmo,
e chamam isso de lei.
-
Uma gangue entra em conflitos violentos com gangues rivais e com o
governo. O governo, entra em conflitos com gangues e em guerras com
outros países.
-
Os cidadãos que vivem em um território controlado por uma gangue
raramente desobedecem as regras dessa gangue. Essa obediência é
conquistada não somente pela força, mas também pela realização
de pequenos serviços e favores. O governo faz o mesmo, e chamam
isso de políticas sociais.
-
Grande parte das pessoas que vivem em seu território nutrem
admiração pelos membros da gangue, assim como apoiadores de
políticos o fazem com seus mestres.
-
Uma gangue possui uma hierarquia determinada, um chefe, seus
comparsas mais próximos, seguranças, empregados de diversos tipos,
aviôezinhos, etc. O governo também, mas chamam isso de políticos,
presidente, deputados, governadores, funcionários, etc...
Então,
qual seria a diferença entre os dois? Simples: o governo possui uma
religião própria, uma semântica própria que "legaliza"
todos os seus atos, algo que não existe em uma gangue. O poder é
exercido em nome do "bem comum", em nome da "democracia".
Um governo serviria, assim, para “cuidar de seu povo”, assim como
os pais cuidam de um bebê. Há toda uma mitologia criada em torno do
governo. Assim como sacerdotes de qualquer religião, políticos
possuem formas diferenciadas de tratamento. Daí vem os "excelentíssimos", e outros termos pelos quais os servos os chamam.
Em
resumo, um governo conquista sua suposta legitimidade através de uma
lavagem cerebral em massa realizada ao longo de décadas, que
convence os governados de que essa máfia exerce o poder de forma
legítima. Pelo fato de possuir essa "legitimidade", e
também pelo fato de um governo ser muito maior e mais poderoso do
que a maioria das gangues, os governos causam um estrago muito maior
do que a maioria delas. Porém, de vez em quando, uma gangue cresce
tanto que se iguala ao tamanho de um estado, como no caso das Farc. A
única coisa que faltaria para as Farc serem vista como um governo
legítimo, seria eles se tornarem um partido e elegerem o
presidente da Colômbia. Assim, chegariam ao status de um governo de fato. É de
se imaginar que o surgimento de todos os governos e estados do mundo
aconteceu dessa maneira, evoluindo desde um pequeno grupo de
assaltantes, até um governo, que nada mais seria do que uma gangue
gigante, vista como legítima pelo povo. A própria palavra governo
faz parte da mitologia, e seria apenas um eufemismo para uma gangue
gigante. Larken Rose já dizia, o governo só existe na cabeça do
governado. Então, chamemos as coisas pelos seus nomes corretos:
assim como imposto é roubo, governo é gangue.